quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

A miséria do ensino de comunicação

"(...)Mais grave do que as dificuldades e problemas éticos do jornalismo investigativo hoje é o seu futuro, ou melhor, a falta de perspectiva de que se faça algo do tipo no longo prazo. Os jovens que são despejados no mercado de trabalho não têm idéia de como fazer esse tipo de reportagem [investigativa] - e boa parte não quer saber mesmo. A maioria dos cursos de jornalismo não tem disciplinas que ao menos discutam o assunto. Em vez de lecionar técnicas de jornalismo investigativo e debater problemas éticos da profissão, as faculdades concentram-se em alienar os estudantes com o lixo pseudo-sociológico de estudos de comunicação e "pós-modernidade". Ao invés de seduzirem os alunos com as belezas e os momentos fantásticos que eles poderão viver na profissão, os professores preferem insistir na visão amargurada e parcial das agruras do ofício. O jornalismo é os dois, por isso é apaixonante.
Mesmo os estudantes que insistam em seguir esse caminho terão dificuldades. O foca que consegue vaga em redação é, normalmente, submetido a um salário baixo e a subserviços durante muito tempo. Por essas razões, há um fenômeno recente de repórteres jovens que não conseguem ficar mais do que quatro, cinco anos na redação. Sem chance de ao menos trabalhar na mídia, nem cogita se empenhar em atividades de investigação jornalística. Produz-se um pensamentos inquietante: se os repórteres que começam a trabalhar hoje têm uma vida útil de apenas cinco anos, quem fará esse tipo de matéria no futuro? É um problema a ser pensado pelas chefias das redações brasileiras."
(Trecho do texto Encruzilhada, do jornalista Diego Escosteguy, de 25 anos).

Encontrei também uma entrevista com Escosteguy no blog www.ftcoutinho.blogspot.com recomendo a leitura, abaixo reproduzo alguns trechos:

NaPrática - Como foi o início de sua carreira?

Diego Escosteguy - Sempre tive dificuldade com o academicismo da faculdade. Para mim, jornalismo é prática, e o curso só me ensinava teoria. Logo no primeiro semestre, procurei uma forma de atuar na prática, e daí surgiu a revista Lente. A preferência pela prática foi uma opção que me ajudou muito. No começo do curso, participei de uma seleção de estágio no Jornal de Brasil, e concorri com pessoas dos semestres mais avançados. Graças à experiência prática que tinha, consegui a vaga. Mas também tive sorte, e tirei proveito disso. Na seleção do estágio, tive que cobrir uma pauta chatíssima na Câmara. Por sorte, aconteceu um tumulto, e fiz uma matéria exclusiva, já que era hora do almoço e não havia repórteres no local. Naquela situação eu tive sorte, mas foi com a experiência prática que pude aproveitar e fazer uma boa matéria.

NP - Quais os requisitos para uma boa investigação?

DE - Tudo se resume a suor. Conseguir boas fontes e documentos é um trabalho árduo. É preciso aliar a técnica com o senso de oportunidade.

NP - Você é favor à obrigatoriedade do diploma de jornalismo?

DE - Eu não tenho opinião assertiva sobre o tema. Acho que deve ser obrigatório, mas não nos moldes de hoje.

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